sábado, 21 de dezembro de 2013

Nova perspectiva


Eu conheci você em um fim de ano. Você parecia mais alto no Facebook, e mais honesto também. Eu não sabia, mas ali era o começo do que eu chamo hoje de “nova perspectiva”. Você era uma espécie de livro aberto, guardado em um impenetrável cofre. Completamente em vão ser tão público, se eu nunca sabia nada certo sobre você. Acho que nunca fiquei tanto tempo online, e nunca estudei tanto sobre coisas que não me interessavam. Você era notavelmente diferente do que eu costumava gostar, e eu gostei tanto, tanto de você que eu deixei de lado toda minha opinião formada, pra finalmente aprender com alguém. Eu me tornei humilde, e nunca me senti tão grande. Você e sua independência. Você e sua frieza, que de tão bem mascarada fazia você parecer o cara mais sensível que já passou pela minha vida. Você e as mesmas músicas de sempre, das mesmas bandas de sempre, da mesma cansada conversa. Você e suas frases de efeito, tiradas de um baú do seu tatara tataravô. Você, que é a piada preferida de tanta gente, é a razão por eu ter finalmente descoberto o que eu quero. E não, não é você.

Cynthia Christine

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Um quase desabafo


Hoje eu quase disse umas mil vezes. Ultimamente eu fico mais calada do que o que falo e irrito você, então você bem que poderia relevar. Escuto sua respiração, e depois seus gritos, eles não são pra mim, mas eu imagino que se eu não conseguir manter minha boca fechada, uma hora serão. Fecho os olhos, penso em uma porção de maneiras de dizer uma unica coisa, e nenhuma me parece inteligente o bastante pra conseguir passar sem uma resposta áspera e irritada sua. Eu tenho medo de você, eu tenho medo de falar algo e de repente desabar. Eu tenho medo de desabar e de repente irritar você. E irritar você é irremediável.

Cynthia Christine

Todo mundo em pânico


Você diz “Eu tenho pânico. Eu não desejo isso pra ninguém. Parece que vou morrer, mas nunca morro”. E eu sei exatamente de que sensação está falando. Às vezes vem uma vontade de lhe dizer que todo mundo tem, mas você quer ser diferente, e eu não me sentiria bem estragando isso. Começa a história do supermercado, e depois do elevador, e depois sobre seu pavor em dirigir, e me vem novamente aquela vontade de lhe dizer que todo mundo sente isso, porque ninguém suporta mais o caos que é viver. Ninguém mais sabe lidar com nada, os consultórios de psicologia tão cheios e você não é o único que quer correr da multidão. Mas você tem essa mania de querer justificar o seu fracasso, de inventar mil e uma desculpas pra não ter que admitir que você não soube fazer sua vida dar certo. Então você começa a discursar que eu não sei como é ter problemas, e que sofrer de amor é infantilidade. Eu sento encolhida no canto do meu banheiro e choro, porque eu sempre acho que você tem razão, mas você não tem.

Cynthia Christine

Um dia antes do fim


Pode gritar. Seja incompreensível, e tudo o que eu vou fazer é suspirar e dizer “tudo bem, esquece”. Depois faça um grande caso porque minha voz está soando triste, e discurse sobre eu não ter motivo algum pra me sentir mal. Eu perdi a vontade de retrucar, discutir e argumentar. Eu sedo pra você, eu sedo absolutamente tudo pra você, porque esse é o ultimo estágio antes de desaparecer. Eu me anulei, porque se anular é uma página antes do final do livro.

Cynthia Christine

Atestado de superioridade


Eu gosto de filmes com baixo orçamento, e você acha que curtir game of thrones é um atestado de superioridade. Você conhece todos os queijos que existem, e eu me limito a dizer que eu adoro cheddar. Então você pede pra eu te ligar, e se irrita, e fala pra eu desligar. Você pede paz, mas você por si é uma guerra. E eu desisto de falar. Eu grito e nem eu me escuto gritar, porque você tem isso de me transformar numa protagonista de um filme do Charlie Chaplin. Você tem uma espécie de controle remoto mental, e isso é frustrante.

Cynthia Christine